sábado, 12 de abril de 2014

Volta - a emigração (outra vez).


Há coisa de 6 meses atrás (mais precisamente 6 meses e 4 dias) eu emigrei. Como muitos enfermeiros emigraram. Como muitos mais Portugueses emigraram. E chorei.
Chorei por deixar a minha família, principalmente. Chorei por deixar a minha ilha, o meu quarto com parede vermelha, os meus livros, a minha caricatura, o meu cantinho. Chorei por não poder exercer a minha profissão no meu país. Chorei porque os meus pais e irmão choraram. Chorei porque ia para um sítio desconhecido. Outra língua, outras pessoas. E chorei muito.
Nessa noite antes da grande ida, dormi com os meus pais. Não tenho vergonha de dizê-lo. A tristeza era muita e o medo também. Não conseguia adormecer, sentia vontade de vomitar devido ao nervosismo. E chorava. Dormir com eles foi a única maneira de me acalmar.
Isto é muito díficil.
Pensem bem: a vida é feita de mudanças, transições e adaptação. Mas não assim tudo de uma vez. A lei da vida (que agora não serve de nada) é crescer, tirar um curso (ou não), arranjar trabalho, uma relação e mudar de casa. De um modo progressivo. Agora não é bem assim.
De um momento para outro, acabaste a licenciatura. E agora? - perguntas.

Agora, como muita gente faz, emigras. Mudas de país, de língua, de casa, de vida. Emigrar não é fácil. Não é fácil por deixarmos a família, sim. E não é fácil lá. Seja no Reino Unido ou outro sítio qualquer. Não é fácil adaptar-se, arranjar um cantinho a que possas tratar de lar doce lar. Viver para além do "casa-trabalho, trabalho-casa". É difícil.
E é ainda mais díficil quando não calhas no sítio certo. Quando sentes que por seres emigrante, porque o teu país vive com dificuldades, eles pensam que podem abusar de ti. Que só pensas em dinheiro e por isso podes esfarrapar-te a trabalhar. Quando pensam que por seres emigrante ou por seres Português és estúpido e podem enganar-te.

Mas, na vida, aprende-se com os nossos próprios erros, com as nossas cabeçadas na parede. E temos sempre que tirar os aspetos positivos naquelas alturas em que a nossa vida não é mesmo um mar de rosas. É daí que vem a nossa força.

Amanhã vou voltar ao Reino Unido. Por esta altura ando a voar pelos céus estrelados. Esperam-me mais uns meses de luta, de trabalho e, espero eu, de mudanças. Mas para além disto, esperam-me momentos a dois com o meu mais-que-tudo, que me tem acompanhado nesta jornada pela vida. Com o nosso gato Leo. E no nosso lar doce lar, pequenino e acolhedor.

Amanhã vou chorar novamente. Porque vou, novamente, deixar a família por alguns meses. Porque agora não vou para o desconhecido. Vou sim para algo que sei bem o que é. E, infelizmente, esta é também uma razão para chorar.
Talvez da próxima vez que voltar a minha ilha e tiver que regressar a terras de sua Majestade seja diferente. A minha mãe diz que só me custa tanto voltar não só porque deixo a família e vou sentir saudades mas também porque não estou a gostar do sítio onde estou a trabalhar e talvez ela tenha razão.

Mas vou. Na esperança de melhorar. E vou lutar por isso. Porque a vida não é feita de desistências. A vida é feita de luta e aprendizagem. Sei que os meus pais, irmão e namorado têm orgulho em mim. Tal como eu tenho neles.
Eu espero um dia contar a minha (a nossa) história aos nossos filhos com orgulho. E que eles sintam tanto orgulho em mim como eu hei-de sentir por eles.

Eu vou, mas volto. Como os meus pais me disseram há 6 meses e 4 dias atrás, eu vou mas não morri. Eu volto. Vou abraçá-los de novo, enchê-los de beijos e viver boas memórias a acrescentar às que já existem. E daí a música no início. É de chorar quando há aqueles que vão e não voltam. Deixam a saudade, a vontade de ter mais tempo com eles e as memórias. E isso dói.

Eu vou, mas volto. (E isto podia dar muito bem o título de um livro. Se é que já não existe.)

2 comentários:

  1. São as rotinas o que mais me deixa saudades em Portugal. E o que ainda não me deixa assentar aqui.

    Ironicamente, foi assim que eu me despedi da minha familia: Eu vou, mas volto.

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  2. Acredito que não seja fácil. Admito que enfrenta o difícil! BOA SORTE! E sê feliz, onde quer que seja!

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