segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dá que pensar.

E quando têm um doente no serviço de urgência, que está preso por ter morto alguém? Cuidariam dele da mesma forma? Ou melhor, cuidariam dele sem sentir medo, revolta ou outro sentimento negativo qualquer?
Ontem estive na sala de recuperação, lá ficam doentes durante pelo menos 24 a 48h porque precisam de ser observados para depois ser decidido se é dado alta ou não.
Nessa sala, estava um senhor que veio acompanhado pelos guardas prisionais. O senhor já tinha recorrido ao serviço de urgência há uns dias e já nessa altura lidei com ele. Sabia que estava preso, mas não sabia o que tinha feito para lá estar, nem pensei nisso.
Ontem foi diferente. Na passagem de turno disseram-nos que o senhor estava preso porque matou alguém.
Se cuidei dele? Sim, cuidei. Mas garanto-vos que a minha postura era muito mais contraída do que no dia em que não sabia o que é que ele tinha feito. Estava com medo. 
Acredito que não sabendo que crime a pessoa cometeu, a relação enfermeiro-doente é muito melhor do que se soubermos, como foi este caso.
Sempre pensei que este aspecto nunca fosse influenciar a minha prática, mas a verdade é que influencia. Não deixei de respeitá-lo, preocupar-me e promover o máximo de conforto possível. A verdade é que a minha atitude era completamente diferente. Se calhar permanecia mais distante, resguardada e não comunicava tanto.
E vocês, se se deparassem com uma situação destas, como lidariam com ela?

1 comentário:

  1. É complicado, mas acho que és obrigada a cuidar dele da mesma maneira. Pode fazer-te confusão, é normal que faça, que fiques mais retraída. bjs

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