segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Da Enfermagem.

Infelizmente, a enfermagem é muito pouco reconhecida pela nossa sociedade actualmente. Disseram-me, com muita frequência: "vais estudar para limpar m*rda e dar injecções? Tantos anos de estudo para isso!". É algo que custa a ouvir e que se ainda não ingressamos no ensino superior, faz com que suscite muitas dúvidas. Aconteceu comigo mas não me imaginava a fazer outra coisa e por isso, bati o pé e lá entrei em Enfermagem mesmo com a minha mãezinha a dizer "Oh filha, não vás para isso! Trabalhas tanto e ganhas tão pouco.".

Perguntam-me, com muita frequência, se gosto do curso que estou a tirar. Eu respondo com firmeza: adoro. Felizmente tenho tido várias oportunidades de aprendizagem, já passei por vários estágios em várias áreas. Claro que existem umas que gosto mais do que outras mas, no global, adoro a minha futura profissão.

Algo que sempre me fascinou nesta área e foi o que fez com que esta fosse a profissão por mim dedesejada é o contacto e a relação que existe entre enfermeiro-utente. Como disse, as pessoas definem muitas vezes a Enfermagem como "mudar fraldas". Não vou mentir: mudamos muitas fraldas, especialmente em serviços onde a maior parte dos utentes estão acamados. Se gosto? Oh, tem coisas melhores mas também existem coisas piores.
O que vos digo relativamente a isto é o que tenho vindo a presenciar das poucas mas excelentes experiências que tenho vindo a ter: por vezes, essa pequena coisa de que toda a gente fala como se fosse algo horrível é ao que os doentes dão mais valor e todos eles dizem muitas vezes: "Menina, desculpe! Que vergonha.." e isto toca-me imenso.
Imaginem-se numa cama durante semanas e não terem como tomar banho, urinar ou defecar sem ficarem todos sujos, não ser capaz de alimentar-se porque não conseguem mexer com os braços. Já pensaram nisso? 
Agora, imaginem ter alguém que vos pudesse fazer isso sem pedir nada em troca. Que vos aparecesse no quarto com um sorriso, mostrando que a vida ainda existe lá fora e que quando sair daquela cama, tudo recomeça? Para mim, esse é o papel do enfermeiro. 
Acreditem que nós sabemos muita coisa. Estudamos muito sobre patologias, medicação e tudo o que é feito, como o simples lavar das mãos, tem a sua razão de ser e nós também temos conhecimento disso. Durante os estágios, temos uma professora à perna que nos pergunta cada vez que damos um passo qualquer questão sobre medicação relacionando com a patologia do utente.
Mas para quem é alvo dos nossos cuidados, de que vale termos todos os conhecimentos do mundo e não sermos capazes de estabelecer uma boa relação com alguém, ser empático, respeitar o outro e acreditar nas suas capacidades?
Para mim, ser enfermeiro é mais do que o "fazer". Ser enfermeiro é cuidar, como uma mãe cuida de um filho. É mostrar que, tendo em conta cada situação, ainda há esperança. É trazer alegria à vida de alguém a quem um sorriso é difícil de arrancar.

Por isso se me perguntam se estou a gostar do curso até agora, digo com toda a certeza que sim. Nós não só cuidamos como cuidam de nós e não há nada que traga mais felicidade do que isso.
Para mim não importa o que a sociedade em geral diz. Importa-me sim o que as pessoas de quem cuido dizem dos meus cuidados e se essas estão satisfeitas, eu sou feliz.

3 comentários:

  1. Bem, de repente quase que fiquei com vontade de seguir enfermagem, só pelo teu post. Fico feliz por estares a gostar e agradeço esta magnífica resposta. Espero que a tua vida profissional seja fenomenal. (:

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  2. acho que foi um dos melhores posts que ali até hoje no teu blog.
    a minha mãe infelizmente tem um problema de coração, e muitas das vezes fica internada. só que... tenho sempre receio de quem fica a tomar conta dela! ao ler o teu texto... espero que ainda haja muito boa gente que goste do que faz, que não exerça esta profissão só por dinheiro, mas sim por gosto!

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  3. Isso é muito importante. Se tu adoras, se te realiza, esquece os preconceitos.

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